segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Aquecimento global: polêmicas e catastrofismos

MSIA
01 Agosto, 2008

Aquecimento global: fatos e factóides

Geraldo Luís Lino 

Aqui vamos nós outra vez! Após o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), sir Nicholas Stern, Al Gore e a pletora de ONGs ambientalistas que se alimentam do “ecocatastrofismo”, o mundo assiste uma nova escalada de declarações alarmistas e iniciativas destinadas a consolidar o tema do aquecimento global como uma emergência planetária. No final de maio, os ministros do meio ambiente do G-8 saíram da sua reunião em Kobe, Japão, trombeteando a necessidade de cortar pelo menos à metade as emissões antropogênicas de dióxido de carbono (CO2) até meados do século – o que implicaria em uma draconiana redução do uso de combustíveis fósseis. [1] Dias depois, na vizinha Tóquio, a Agência Internacional de Energia (AIE) endossou a meta de cortes, mesmo admitindo que o custo de semelhante e mal denominada “revolução energética” seria “bastante alto” [2].

Na penúltima semana de junho, a chaleira destampou de vez. Na segunda-feira 23, em um depoimento ao Senado dos EUA, o climatologista James Hansen, que há 20 anos ajudou a disparar o alarmismo “aquecimentista” ao afirmar que tinha “99% de certeza” de que a Humanidade era responsável pelo aumento das temperaturas atmosféricas, superou todos os limites do “catastrofismo” inconseqüente, chegando a propor o fechamento de todas as centrais termelétricas a carvão até 2030 e penas de prisão para os dirigentes das empresas petrolíferas. (3) No dia seguinte, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair divulgou um relatório intitulado “Rompendo o impasse climático”, no qual alerta para o risco de não se chegar a um acordo global sobre as metas de cortes de emissões na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Copenhague, no próximo ano. (4) Ao mesmo tempo, o agora lorde Stern se uniu ao coro, proclamando que, devido à inação dos governos do mundo, o custo das correções necessárias para evitar o desastre climático será o dobro do anteriormente previsto.

Finalmente, em julho, a própria cúpula do G-8, juntamente com os seus convidados do G-5 (China, Índia, Brasil, México e África do Sul), referendou a agenda de cortes.

Segundo todos esses arautos do caos, a negativa de ouvi-los abrirá as portas a um apocalipse climático. Bem, felizmente para a Humanidade, isto não ocorrerá.



As verdadeiras emergências globais
Em primeiro lugar, para os interessados a sério no negócio das emergências globais, não há escassez delas. Adiante, estão listadas algumas, que não existem apenas em modelos matemáticos computadorizados e são ameaças reais e presentes, que estão a exigir ações urgentes em um novo nível de cooperação e coordenação internacional, motivado por um “Princípio do Bem Comum”, e não pelos habituais interesses corporativos e hegemônicos das grandes potências. Vejamos:
- Os problemas ambientais mais sérios do mundo, particularmente nos países em desenvolvimento, são os relacionados à escassez de infra-estrutura de água e saneamento básico, como a poluição hídrica e as doenças transmitidas pela água (que, segundo o UNICEF, matam uma criança a cada 15 segundos em algum lugar do mundo). No Brasil, apenas 6% dos municípios têm sistemas de tratamento de esgotos e cerca de dois terços das internações na rede hospitalar pública ainda se devem a doenças – evitáveis - transmitidas pela água. Uma pesquisa efetuada no ano passado pelo British Medical Journal entre médicos de todo o mundo apontou por larga margem o saneamento como a principal conquista da medicina nos últimos 150 anos – um privilégio ainda fora do alcance de mais de 40% da população mundial. [5] (Por razões que ficarão claras adiante, Al Gore e as grandes ONGs ambientalistas não se interessam pelo assunto.)

- A fome e suas conseqüências matam uma criança a cada seis segundos, segundo a FAO. Cerca de 850 milhões de pessoas em todo o mundo padecem de fome crônica, quadro que certamente se agravará com a presente crise alimentícia mundial. Além do imoral desperdício de vidas produtivas, o custo econômico anual de semelhante tragédia, em perdas de produtividade, rendas, investimentos e consumo, é da ordem de 500 bilhões a um trilhão de dólares.

- A falta de acesso a fontes energéticas modernas por grande parte da população mundial. Na África, 90% da população têm as suas necessidades diárias atendidas pela queima de esterco e lenha, esta o combustível mais primitivo conhecido pelo homem (além de ser uma importante fonte de desmatamento). Embora com números menores, o mesmo ocorre em grande parte da Ásia, América Latina e Caribe. Da mesma forma, como 80% do consumo mundial de energia primária é atendido pelo carvão, petróleo e gás natural, não é difícil antecipar as conseqüências potenciais das restrições aos seus usos, propostas por ambientalistas, políticos, mercadores de carbono e todas as pessoas aterrorizadas pelos cenários catastrofistas sobre o aquecimento global. Ademais, tais combustíveis são usados para gerar cerca de dois terços da eletricidade do planeta, sendo o resto proporcionado quase totalmente por usinas hidrelétricas e nucleares (ambas, também crescentemente na mira dos ambientalistas).

- Um sistema financeiro internacional disfuncional e necessitado de uma urgente reforma, para que seja recolocado a serviço da economia real, e não o contrário, que tem sido a tônica das últimas décadas de “globalização” financeira. Em 21 de maio último, o jornal francês Le Monde publicou uma carta aberta assinada por sete ex-chefes de governo, cinco ex-ministros da Fazenda europeus e dois ex-presidentes da Comissão Européia, com o significativo título “A finança louca não deve governar-nos”. O texto adeverte: “A crescente desigualdade de rendas tem ocorrido em paralelo com o crescimento contínuo no setor financeiro... O capital financeiro é hoje 15 vezes maior que o PIB de todos os países... O mundo da finança tem acumulado uma vasta massa de capital fictício, mas isto tem feito muito pouco pela condição humana e pela preservação do meio ambiente.” E apelam pela preparação de “uma conferência financeira global para repensar as regras da finança internacional e a governança dos assuntos econômicos globais”. [6]

- O abismo cada vez mais profundo entre as agendas das classes políticas e as aspirações e necessidades reais da maioria das populações da maior parte dos países, fato facilmente observável nos fatos do cotidiano. Em uma recente pesquisa efetuada pelo Programa de Atitudes Políticas Internacionais da Universiade de Maryland, quase dois terços dos entrevistados entre mais de 17 mil adultos de 19 países (representando 59% da população mundial) consideraram que seus países são governados por “uns poucos grandes interesses que se preocupam com si próprios”, em vez de “em benefício de todas as pessoas”. [7]

A lista de problemas reais é muito maior, mas esses poucos exemplos são suficientes para demonstrar as distorções da agenda das discussões globais, tanto entre os formuladores de políticas como entre a opinião pública em geral (que, no caso dos temas climáticos, reflete uma deficiência generalizada de conhecimentos científicos básicos entre os estratos educados das sociedades).

De qualquer maneira, que ninguém se iluda. Excetuando-se alguma inovação tecnológica imprevista, pelo menos até meados do século não haverá alternativas em grande escala aos combustíveis fósseis. Nos transportes, grandes investimentos nacionais e internacionais na implementação e modernização de sistemas eficientes, integrados e multimodais podem e devem ajudar a reduzir o uso de automóveis e caminhões, em especial nas congestionadas cidades maiores. Para a geração de eletricidade, as melhores opções são o aproveitamento do potencial hidrelétrico ainda disponível, o desenvolvimento de uma nova geração de reatores de fissão nuclear intrinsecamente seguros (inclusive reatores regeneradores capazes de “reciclar” grande parte do combustível usado), as pesquisas sobre a fusão nuclear em esforços conjuntos como o Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER) e a interligação de redes de energia continentais, para ampliar tanto a eficiência como a segurança energética. Entretanto, o carvão, o petróleo e o gás natural continuarão sendo fontes de desenvolvimento por um longo tempo ainda.

A ciência não avança por “consenso”
O segundo aspecto relevante a ressaltar é que, a despeito de tudo o que dizem o IPCC, Al Gore e seus amigos de Hollywood, uma mídia tendenciosa e políticos iludidos, inexiste qualquer evidência científica (entendendo-se como tal fatos concretos, e não meros factóides ou um “consenso” fabricado) que vincule as emissões de carbono antropogênicas às temperaturas atmosféricas. Em 2007, uma combinação imprevista de atividade solar fraca e do fenômeno La Nina (um resfriamento das águas superficiais do oceano Pacífico Oriental) causou uma súbita queda de não menos de 0,7oC na temperatura média mundial, “cancelando” em um único ano todo o aquecimento alegadamente registrado desde 1870 – o principal pretexto para todo esse alarde sobre o aquecimento global. [8]

Evidentemente, fenômenos biogeofísicos de escala planetária e altamente complexos, como as mudanças climáticas, não pode ser analisados adequadamente na limitadíssima escala de tempo proposta pelo IPCC e a maioria dos “catastrofistas”, ou seja, os últimos 150 anos. Se se toma como referência, corretamente, a escala de tempo geológica, constata-se facilmente que, nos últimos 600 milhões de anos, as temperaturas e as concentrações de CO2 têm aumentado e diminuído, a níveis bem mais altos e, no caso das temperaturas, bem mais baixos do que os atuais, mas, na maior parte do tempo não houve uma correlação clara entre ambas as curvas, como mostram um vasto número de dados indiretos (os chamados “termômetros geológicos”). Quando se verifica uma correlação, como nas últimas centenas de milhares de anos, é a curva de temperatura que precede a do CO2, e não o oposto. [9]

De fato, na maior parte do tempo, as concentrações atmosféricas de CO2 têm sido bem mais altas que as atuais. Ao final do período Ordoviciano (há 440 milhões de anos), elas eram 16 vezes maiores, ao passo que as temperaturas médias na zona intertropical eram aproximadamente as mesmas de hoje e, nas altas latitudes, uma vasta glaciação cobria o então supercontinente de Gondwana.

A propósito, com exceção das glaciações do Permiano-Carbonífero (300-250 milhões de anos atrás), as concentrações atmosféricas de CO2 nunca foram tão baixas como no atual período geológico, o Quaternário (os últimos 2 milhões de anos). [10]

Quanto aos períodos mais quentes, eles costumavam ser chamados “ótimos climáticos”, antes que a climatologia se tornasse uma disciplina “política”, nas últimas décadas. Um deles foi o Período Quente Medieval, entre os séculos XI e XIII, quando as temperaturas médias no Hemisfério Norte chegaram a ser até 2oC superiores às atuais. A expressão se origina do fato constatado de que não só a biosfera, como a própria Humanidade, têm se adaptado mais confortavelmente aos períodos mais quentes do que aos mais frios, como as oito eras glaciais ocorridas nos últimos 800 mil anos. Estes períodos glaciais têm durado cerca de 90 mil anos, sendo separados por períodos interglaciais que duraram em média 10.000-10.500 anos. Toda a existência da Humanidade civilizada tem se dado no presente interglacial, o Holoceno, que já dura 10.700 anos.

Assim, em vez de morrer de medo do aquecimento, as pessoas preocupadas com o clima deveriam rever suas idéias. Sem incorrer em pânico, não é necessário uma autêntica era glacial; uma mera queda de 1-2 graus centígrados na temperatura média do planeta (cientistas que estudam a influência cósmica e solar no clima esperam um resfriamento nas próximas décadas) significaria uma série de problemas para a agricultura mundial, como um aumento na freqüência de “geadas matadoras” e secas. (11) O perigo seria particularmente grande para um mundo regido pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), no qual as políticas nacionais de segurança alimentícia passaram a ser rotuladas “distorções do mercado” e que se tornou grandemente dependente de alguns poucos – e geograficamente vulneráveis – países grandes exportadores de alimentos, como os EUA, Canadá, França, Argentina, Brasil e Austrália.

Igualmente, pouco se menciona o fato de que a maioria das plantas terrestres se beneficiaria de maiores concentrações de CO2 – afinal de contas, o gás é um dos seus principais nutrientes.

Preocupações com o nível do mar? Há 20 mil anos, no auge da última glaciação, os oceanos encontravam-se 120 metros abaixo dos seus níveis atuais. Há 6 mil anos, durante o Ótimo Climático Holocênico, quando as temperaturas chegaram a ser 4-6oC superiores às atuais em algumas regiões, a linha costeira em várias áreas do planeta encontrava-se três metros acima das atuais (a “indústria” mais avançada da época era a fabricação de potes de cerâmica no vale do rio Amazonas). [12]

Em síntese: durante centenas de milhões de anos, a dinâmica climática global tem sido condicionada por uma interação extremamente complexa de fatores naturais – radiação cósmica, atividade solar, gases de efeito estufa, correntes marinhas, atividade vulcânica, a distribuição de massas oceânicas e continentais e outras -, que a ciência ainda está longe de compreender adequadamente – e mais ainda de poder simular em modelos computadorizados, por mais sofisticados que sejam (tais modelos são ferramentas científicas úteis, mas jamais deveriam ser usados para desorientar políticas públicas e internacionais de tão grande alcance).

E o que dizer do assim chamado “consenso científico” sobre o assunto? Bem, para início de conversa, a ciência não avança por meio de qualquer tipo de “consenso”, mas por um compromisso permanente com a busca da verdade – e, como a história tem mostrado, um grande número de conquistas científicas têm sido feitas contra o “consenso” prevalecente. Ainda assim, milhares de cientistas importantes, com especializações e altas qualificações acadêmicas em todas as disciplinas científicas relacionadas aos estudos climáticos, inclusive muitos ligados ao próprio IPCC, têm negado categoricamente a existência de tal “consenso”.

Um bom exemplo é o Projeto Petição sobre o Aquecimento Global do Instituto Oregon de Ciência e Medicina (EUA), um apelo assinado até agora por mais de 31 mil cientistas estadunidense (dos quais 9 mil com nível de doutorado) de várias disciplinas científicas. O texto é, seguramente, uma das mais concisas e precisas descrições do problema:

Os limites propostos para os gases de efeito estufa prejudicariam o meio ambiente, dificultariam o progresso da ciência e da tecnologia e teriam efeitos negativos na saúde e bem-estar da Humanidade. Não existem evidências científicas convincentes de que a liberação pelo homem de dióxido de carbono, metano ou outros gases de efeito estufa, esteja causando ou venha a causar em um futuro previsível um aquecimento catastrófico da atmosfera da Terra e a desestabilização do clima terrestre. Ademais, há substanciais evidências científicas de que um aumento no dióxido de carbono atmosférico produziria muitos efeitos benéficos para os ambientes naturais vegetais e animais da Terra. [13]


Quanto ao IPCC, a agência da ONU que, supostamente, encarnaria o alegado “consenso”, um grande número de cientistas, até mesmo entre os seus próprios membros, tem criticado publicamente o seu enfoque tendencioso do assunto e, particularmente, os seus alarmistas “resumos para formuladores de políticas”. Efetivamente, o IPCC foi criado em 1989, a partir do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com uma tarefa predeterminada de “provar” – e não investigar – a influência humana no clima global. Assim sendo, o seu negócio não é a ciência, mas a política – e, como veremos adiante, os negócios.

Na busca da sua capciosa agenda, o IPCC não se melindra sequer em recorrer a métodos fraudulentos. Tal foi o caso do seu relatório de 2001, que exibia com grande fanfarra um gráfico produzido pelo paleoclimatologista estadunidense Dr. Michael Mann, o famigerado “gráfico do taco de hóquei”, o qual, alegadamente, demonstrava que o aquecimento registrado no século XX seria o resultado das emissões de carbono antropogênicas, pois não mostrava o bem conhecido Período Quente Medieval (reproduzido até mesmo no primeiro relatório do IPCC, em 1990). Ocorre que, como demonstraram depois vários pesquisadores sérios, o Dr. Mann e sua equipe haviam, simplesmente, “limado” o Período Quente Medieval com o uso de um algoritmo “engatilhado”, que produzia os mesmos resultados independentemente dos dados introduzidos. [14]

Inabalável, o IPCC limitou-se a retirar o gráfico do seu hoje célebre relatório de 2007, mas manteve as suas conclusões, como se constata logo na página 2 do “Resumo para formuladores de políticas”:
As temperaturas médias do Hemisfério Norte durante a segunda metade do século XX foram, muito provavelmente, mais altas do que durante qualquer outro período de 50 anos nos últimos 500 anos e, provavelmente, as mais altas pelo menos nos últimos 1.300 anos (grifos nossos). [15]
Tanto pior para a sua trombeteada “credibilidade científica”.

O modelo de cooperação científica internacional de que o mundo necessita não é o IPCC, mas o Ano Geofísico Internacional (1957-58), o extraordinário esforço que uniu dezenas de milhares de cientistas de 66 países no auge da Guerra Fria, para promover um grande salto no conhecimento sistêmico e abrangente da dinâmica da Terra e suas interações com o Sol e o Cosmos. É de fato lamentável que o cinqüentenário daquela grande empreitada tenha passado virtualmente despercebido pela mídia global, pois o enfoque epistemológico, as metodologias, padrões e procedimentos de pesquisa conjunta desenvolvidos para ele, assim como o grande volume de dados coletados e a qualidade dos resultados obtidos representaram um enorme avanço para a ciência, que proporcionou benefícios reais para toda a Humanidade – façanha diametralmente oposta ao desserviço prestado pelo IPCC.

O que está por trás de todo esse alarde?
É hora de encarar a realidade: por trás da tramóia do aquecimento global antropogênico, encontram-se poderosos interesses internacionalistas hegemônicos orientados por uma visão malthusiana e darwinista social da Humanidade. Os indivíduos que representam tais interesses têm raízes profundas no Establishment do Hemisfério Norte e controlam o aparato ambientalista internacional, que ajudaram a criar, principalmente com generosas doações financeiras às grandes ONGs internacionais. Para eles, o “catastrofismo” ambientalista é apenas um instrumento a serviço de uma agenda política orientada, em grande medida, para restringir o desenvolvimento mundial e controlar uma grande fatia dos recursos naturais do planeta. Tudo isso, ao mesmo tempo em que direcionam parcialmente as pesquisas científicas sobre clima de acordo com a sua agenda (igualmente com doações seletivas) e, é claro, enquanto fazem grandes negócios com os “futuros de fumaça” chamados créditos de carbono – como é o caso deste suposto paradigma de ética, credibilidade científica e estadismo, Al Gore.

Difícil de acreditar? Vejamos o que dizem dois credenciados e respeitados pesquisadores que investigaram o assunto de ângulos distintos. O primeiro é o sociólogo da Universidade de Pittsburgh, Dr. Donald Gibson, em seu crucial livro de 1994, Battling Wall Street: The Kennedy Presidency (Combatendo Wall Street: a Presidência Kennedy). Diz ele:
“No final da década de 1950 e início da de 1960, uma antiga inclinação existente entre alguns membros da classe superior estava prestes a se tornar um assunto nacional. Esta inclinação ia redefinir as conquistas da ciência e da tecnologia como ações malignas que ameaçavam a natureza ou como fúteis tentativas de reduzir o sofrimento humano que, diziam, era o resultado da superpopulação. Essa tendência, em parte articulada como uma visão de mundo nos escritos de Thomas Malthus, toma o que podem ser preocupações razoáveis sobre temas como a qualidade do ar e da água e as reveste de uma ideologia profundamente hostil ao progresso econômico e à maioria dos seres humanos... O impulso geral era claro: os EUA e o mundo deveriam se mover para acabar com o crescimento populacional e a proteção do meio ambiente deveria receber uma importância igual ou maior do que a melhoria dos níveis de vida... O crescimento econômico e a tecnologia eram vistas como problemas. (...) [16]

A segunda é a premiada jornalista investigativa canadense Elaine Dewar, autora de Uma demão de verde: os laços entre grupos ambientais, governos e grandes negócios, possivelmente, a melhor investigação já feita sobre os bastidores do movimento ambientalista internacional. Em suas palavras:
“Ao final de 1991, eu havia me tornado altamente cética sobre os motivos dos participantes do circuito [ambientalista]. Eu havia chegado à conclusão de que a poluição transfronteiriça estava sendo usada como um instrumento de mercado para vender aos que ainda tinham dúvidas a necessidade de adoção de níveis de governança regionais e globais. O ‘pense globalmente, aja localmente’ era apenas outro slogan propagandístico. O público estava sendo persuadido a aceitar a proteção ambiental baseada num modelo de mercado: regulamentações seriam substituídas por leis que permitiriam a comercialização de débitos e créditos de poluição. Se os associados de [Maurice] Strong fossem bem sucedidos, em breve, os créditos e débitos de poluição seriam comercializados globalmente como pernis de porco e derivativos financeiros. Por volta do ano 2000, haveria poucas entidades nacionais independentes capazes de defender as comunidades locais dos leviatãs internacionais. As comunidades locais competiriam entre si pelos favores dos grandes interesses. Aqueles de nós que vivêssemos nas periferias brutais dessas novas potências mundiais se veriam agradecidos por comercializar com qualquer um, a qualquer preço.” [17]
Qualquer semelhança com a presente corrida para converter as emissões de carbono em commodities e a pretendida agenda pós-Kyoto, para o estabelecimento de cotas de emissões (leia-se consumo de energia) para cada país não é mera coincidência.

O compatriota de Dewar, Maurice Strong, um multimilionário com uma impressionante coleção de amigos e contatos nos altos escalões do Establishment, em governos em todos os continentes e no aparato das Nações Unidas, é um manipulador ambiental por excelência, atuando em numerosas posições de alto nível como empresário, funcionário do Governo do Canadá, superburocrata da ONU, membro de conselhos de administração de fundações e ONGs e várias outras (os leitores interessados podem completar a lista fazendo a sua própria pesquisa via Google). Em seu livro, Dewar revela que ele já havia proposto um imposto internacional sobre o consumo de petróleo na Conferência de Estocolmo, em 1972, a primeira grande reunião ambiental internacional, da qual ele foi o secretário-geral (posto que repetiu na chamada Cúpula da Terra, no Rio, em 1992). Curiosamente, o pretexto invocado na ocasião já era o “aquecimento global”, isto em uma época em que as temperaturas vinham caindo de tal forma, desde a década de 1940, que alguns faziam advertências sobre uma iminente “nova era glacial” (inclusive alguns que hoje trombeteiam alarmes sobre o aquecimento global). Não com surpresa, o nosso “Sr. Carbono” é um dos cérebros por trás da criação do IPCC e do Protocolo de Kyoto, além de integrar o conselho de administração da Bolsa Climática de Chicago (CCE), a primeira “bolsa de carbono” do mundo.

O próprio Strong escreveu sobre o seu papel no estabelecimento da agenda “aquecimentista”, em um artigo publicado no jornal The Globe and Mail de Toronto, em 7 de março de 2007, no qual ele propôs a criação de uma “superagência” para fiscalizar a implementação das políticas de cortes de carbono em todo o mundo. Diz ele:
 
“Como alguém cujo papel na colocação do tema das mudanças climáticas na agenda pública está sendo alvo de críticas, me apresso em confessá-lo. Como o primeiro diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, eu convoquei uma reunião de especialistas em mudanças climáticas há mais de 30 anos atrás. Em 1992, eu encabecei a Cúpula da Terra, que produziu a Convenção sobre Mudanças Climáticas, e estive envolvido em Kyoto, quando foi acertado o contencioso protocolo das metas... Eu proponho que seja estabelecido um novo tipo de comissão – uma Comissão Climática Mundial... A comissão seria delegada pelas Nações Unidas e seria autônoma em suas operações... Ela monitoraria todas as atividades envolvendo as mudanças climáticas e se reportaria aos governos e à ONU, avaliando os progressos e os desempenhos de todos os atores, provendo recomendações específicas que, espera-se, tenham uma influência significativa na opinião pública e nas ações de governos, indústria e outros.” [18]
Em outras palavras, uma “Gestapo verde”, cujo staff seria constituído por superburocratas não-eleitos e respondendo somente aos múltiplos interesses estabelecidos por trás da máquina de alarmismo sobre o aquecimento global.

Por tudo isso, qualquer tentativa de transformar as emissões antropogênicas de carbono no “bicho-papão” do aquecimento global é simplista e desorientadora, quase ao nível da estupidez – ou da má-fé. E a insistência em “descarbonizar” a economia mundial contra todas as evidências de que estamos lidando com um problema não-existente só pode ser rotulada como suicida – ou criminosa.

Assim sendo, já é mais que hora de devolver as discussões sobre as mudanças climáticas ao lugar de onde ela nunca deveria ter sido subtraída: o da boa ciência, do bom senso e do bem comum. Entretanto, semelhante tarefa não pode ser deixada apenas a cientistas e políticos; ela precisa começar com cada um de nós, cidadãos comuns, com a rejeição de tal agenda de pesadelos para o nosso futuro.

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Referências:
1. Agence France Presse, "G8 Ministers Pledge 'Strong Will' on Climate Amid Doubts," 26/05/2008, http://www.commondreams.org/archive/2008/05/26/9191/.
2. Jonathan Soble e Ed Crooks, "IEA proposes much higher carbon offsets," Financial Times, 6/06/2008; ver também o boletim de imprensa da AIE, em http://www.iea.org/Textbase/press/pressdetail.asp?PRESS_REL_ID=263.
3. Jay Ambrose, “Vengeful Hansen's answer for global warning heretics”, Scripps Howard News Service, 27/06/2008.
4. Tony Blair, “Break the deadlock”, International Herald Tribune, 26/06/2008, http://www.iht.com/bin/printfriendly.php?id=14013073.
5. Sarah Boseley, "Sanitation rated the greatest medical advance in 150 years", The Guardian, 19/01/2007, http://www.guardian.co.uk/society/2007/jan/19/health.medicineandhealth3.
6. "La finance folle ne doit pas nous gouverner ", Le Monde, 21/05/2008, http://www.lemonde.fr/web/imprimer_element/0,40-0@2-3232,50-1047738,0.html.
7. WorldPublicOpinion.org, "World Publics Say Governments Should Be More Responsive to the Will of the People", 12/05/2008.
8. Phil Chapman, "Sorry to ruin the fun, but an ice age cometh", The Australian, 23/04/2008, http://www.theaustralian.news.com.au/story/0,25197,23583376-7583,00.html.
9. Nicolas Caillon et al., "Timing of Atmospheric CO2 and Antarctic Temperature Changes Across Termination III," Science, Vol. 299, 14 March 2003, pp. 1728-31 (disponível em http://icebubbles.ucsd.edu/Publications/CaillonTermIII.pdf).
10. "The Paleomap Project", www.scotese.com; "Paleoclimatologia: Historia del Clima y Cambios Climáticos", http://homepage.mac.com/uriarte/Ver também Robert A. Berner and Zavareth Kothavala, "GEOCARB III: A Revised Model of Atmospheric CO2 Over Phanerozoic Time," American Journal of Science, Vol. 301, February 2001, pp. 182–204 (disponível em http://www.geocraft.com/WVFossils/Reference_Docs/Geocarb_III-Berner.pdf). O mesmo sítio traz um didático gráfico que combina a evolução das temperaturas e do dióxido de carbono nos últimos 600 milhões de anos, em http://www.geocraft.com/WVFossils/Carboniferous_climate.html.
11 David Whitehouse, "Ray of hope: Can the sun save us from global warming?", The Independent, 5/12/2007, http://www.independent.co.uk/news/science/ray-of-hope-can-the-sun-save-us-from-global-warming-762878.html.
12. Wikipedia, "Sea level rise", http://en.wikipedia.org/wiki/Sea_level_rise.
13. Global Warming Petition Project, http://www.oism.org/pproject/.
14. Wikipedia, "Hockey stick controversy", http://en.wikipedia.org/wiki/Hockey_stick_graph.
15. IPCC, Climate Change 2007: Synthesis Report – Summary for Policymakers, http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar4/syr/ar4_syr_spm.pdf.
16. Donald Gibson, Battling Wall Street: The Kennedy Presidency. New York: Sheridan Square Press, 1994, pp. 87, 121.
17. Elaine Dewar, Uma demão de verde: os laços entre grupos ambientais, governos e grandes negócios. Rio de Janeiro: Capax Dei, 2007, p. 336.
18. Maurice Strong, "A super-agency?", The Globe and Mail, 7/03/2007, p. A15.
[N.E. - Uma versão em inglês deste artigo foi publicada no endereço http://www.solon-line.de/global-warming-a-brazilian-view.html.]


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 Fonte: http://www.msia.org.br/c---t/643.html




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